Ativ mód V - Webquest

Ativ. Mód V - Webquest


Atividade Proposta para 9º ano do ensino fundamental II.

Temáticas Transversais: Sexualidade e Pluralidade Cultural
Professora Orientadora: Leila Cristina N. L. Garrido.
Área de Atuação: Humanas.
Disciplinas que atuo: História, Religião e Cultura Baiana.

Título do Projeto: Infibulação é uma questão religiosa ou cultural?

Utilizaremos alguns recursos audiovisuais, que vão facilitar nossa pesquisa, para enfim, respondermos com propriedade a questão norteadora: Infibulação é uma questão religiosa ou cultural?

Vamos assistir ao filme Massai Branca, analisemos os personagens desta biografia, (uma história real), o enredo, o tempo e o espaço nos trás elementos pluriculturais, extremamente rico em detalhes, promovendo uma viagem ao mundo da tribo dos massais, no Quênia, seus ritos, crenças, valores e o conflito cultural, promovido pela relação com a cultura européia, na figura da suíça Carola e o guerreiro africano massai.

Agora prestem a atenção a seqüência que devem seguir para aprofundar seus conhecimentos sobre infibulação:

O trabalho será árduo, todavia, proveitoso. Boa sorte!

ATIVIDADES PROPOSTAS:

1ª etapa - Anotar em seu caderno, todos os 'sentimentos', 'experiências' e 'vivências' que foi provocado pelo filme. Tentem responder por que se envolveu nas cenas? Por que se sentiu dentro do filme, como se fosse um dos personagens? O que nos deu raiva, o que gostaríamos que fosse diferente, será que poderíamos interferir ou modificar aquela realidade? Você se comportaria da mesma maneira que a massai branca?

2ª etapa - Em nossa aula já conceituamos Infibulação e o uso da terminologia pluricultural, agora vocês irão ler alguns artigos, postados em blogs e nas www sugeridas abaixo, peguem seu caderno e anotem as principais informações dadas. Não anotem as opiniões dos autores sobre o assunto, esta será elaborada por vocês.



Neste blog você deve clicar nos links sugeridos e se aprofundar na temática.

3ª etapa: No laboratório construir seu blog, digitar suas sínteses e postar nele.

4ª etapa: Leia o texto abaixo:

 RAZÕES DA PRÁTICA

A Mutilição Genital Feminina (MGF) é defendida como prática tradicional por motivos:
1)      psico-sexuais à o clítoris é considerado um órgão agressivo; protecção da castidade; a crença de que uma mulher não mutilada não pode dar à luz
2)      religiosos à são resultados da crença que é exigida pela fé islâmica (apesar de também ser praticada por católicos, protestantes, coptas, animistas e não crentes dos vários países em questão)
3)      sociológicos à são actos de iniciação e passagem para a idade adulta
4)      higiénicos/saúde à porque os órgãos genitais femininos exteriores são “sujos”

As justificações que se encontram nos vários autores que escreveram ou estudaram esta problemática aponta para um motivo primordial: a cultura. Desde o rito de passagem para a fase adulta até à simples sobrevivência da tribo, todos os argumentos parecem ser válidos.
A Buffalo Law Review descreve mais razões: promoção da coesão sócio-política, preservação da virgindade através do controlo da promiscuidade feminina, aumento da fertilidade e das oportunidades de casamento e/ou conjugais, saúde e limpeza. O medo de perda moral, psicológica, cultural e social acaba por perpetuar este tipo de práticas.
Em Dezembro de 1999 o Population Briefs lista outros motivos como a diminuição da libido das mulheres com a finalidade de garantir a fidelidade conjugal e como medida de tratamento médico. Mas a manutenção das tradições religiosas e culturais e os ritos de passagem da adolescência para a maioridade também são argumentos que marcam presença.

As estatísticas apresentadas pelo Populations Briefs são bastante elevadas no que concerne às práticas de circuncisão feminina: 93% de mulheres no Burkina Faso e 94% no Mali.
No Burkina Faso cerca de metade das mulheres sujeitaram-se a uma clitoridectomia  ou à remoção parcial ou total do prepúcio clitoriano. No Mali mais de metade das mulheres foram excisadas (com remoção do clítoris e remoção parcial ou completa dos lábios menores) e uma pequena parte foi infibulada.

O factor económico também tem um peso considerável para a perpetuação desta prática na medida em que as parteiras e enfermeiras têm um nível social e económico baixo. Nestes países a circuncisão é uma fonte de rendimento extra que além de garantir uma melhor forma de subsistência, também garante um certo poder social.
O factor socio-económico também é apontado neste artigo - uma pesquisa efectuada entre as mulheres egípcias circuncisadas concluiu que estas, embora tenham cursos superiores, pertencem a famílias com um nível socio-económico baixo, que em geral são analfabetas ou semi-analfabetas.
Numa comunidade onde as mulheres são economicamente dependentes dos seus maridos, o casamento é imperativo e as mulheres são, por isso, compelidas a submeterem-se à circuncisão para sobreviverem. Assim, o ciclo vicioso da mutilação perdura, já que sucessivas gerações de mulheres impõem a prática a elas próprias e às suas filhas.
Os pais não pretendem magoar as suas filhas, mas sim prepará-las para o casamento e para que sejam aceites na sociedade, e a circuncisão é a única maneira que conhecem - é uma passagem para a idade adulta.
As mulheres justificam a continuação da prática da MGF com: tradição, preservação da virgindade antes do casamento, fidelidade após o casamento, aumento do prazer sexual do marido, aumento da fertilidade, prevenção da mortalidade dos recém-nascidos, higiene e requisição religiosa.
Para a AI, a mutilação genital feminina tem a sua tradição “no lugar subordinado que, historicamente, as mulheres têm ocupado na família, na comunidade e na sociedade”.
 A MGF insere-se em contextos sociais específicos que de seguida listamos:
-no interior da Costa do Marfim, uma rapariga “Yacouba” não circuncisada não é vista como preparada para o casamento;
-entre os “Samburu” no Quénia, as raparigas não circuncisadas são consideradas sujas, promíscuas e imaturas, sendo geralmente circuncisadas por volta dos 14 ou 15 anos, normalmente antes de se casarem. Uma rapariga com um irmão mais novo pode ser sujeita à circuncisão, se ela permanecer sem se casar até ao final da adolescência, já que o costume dita que um rapaz com uma irmã mais velha não circuncisada não pode ser iniciado na classe guerreira;
-a circuncisão é encarada de modo peculiar nas populações africanas dos Dogon, Bambara e Lobi do Mali (nordeste africano). Entre estas populações, a lei fundamental da criação é a “regra dos gémeos”. Ao nascer, cada criança é “gémeo” – duplo, equipado com almas gémeas de diferentes sexos. Na rapariga, a alma masculina reside no clítoris, que é considerado o seu órgão masculino. No rapaz, a remoção do prepúcio, onde reside a alma feminina, confirma o rapaz ao sexo a que estava destinado. A excisão, com o corte do clítoris, livra a rapariga do elemento masculino.

Religião e MGF

Apesar de se praticar em muitos países de maioria muçulmana como o Egipto, Sudão, Somália, Senegal, Gâmbia, Mali a MGF não é um costume exclusivamente muçulmano pois também é praticada por comunidades animistas, cristãs, judias.
“A MGF é mais antiga que o surgimento do Judaísmo, Islamismo e Cristianismo”, por isso é fácil apercebermo-nos da profundidade das raízes culturais que tal sistema produz.
O Judaísmo e o Cristianismo implantaram as suas ideologias e, com elas, as práticas de circuncisão feminina espalharam-se pelo Sudão, Egipto, Eritreia, Somália e África.
A circuncisão feminina ainda é praticada em parte pela influência que as crenças ancestrais africanas exercem sobre a prática religiosa dos habitantes destes países.
 As duas fontes principais religiosas do islamismo são o Corão e o Hadith (ou Sunnah, como é designado por alguns autores).
O Corão é o agente religioso mais influente, porque é nele que estão compiladas todas as palavras que Deus revelou ao profeta Mohammed. No Hadith estão compilados os feitos, palavras e acções de Mohammed e é, de resto, a única fonte que encerra várias alusões à circuncisão feminina, não havendo uma única passagem no Corão que a mande executar.
Uma das indicações do profeta é a de que as mulheres devem ser ligeiramente circuncisadas pois assim será mais agradável para o respectivo marido. O Corão, por sua vez, bane toda e qualquer alteração que se faça ao corpo humano e proíbe os seus seguidores de fazer mal a si próprios.
 A Bíblia encerra uma alusão à circuncisão em que Deus diz a Abraão que todos os rapazes de 8 anos devem ser circuncisados pois a remoção do prepúcio seria um sinal de ligação entre Deus e os circuncisados e aqueles que não o fossem violavam a aliança estabelecida.
O trabalho desenvolvido por Sami Abu-Sahlieh acrescenta mais duas passagens na Bíblia, a favor da circuncisão, em que esta é um sinal de aliança: no Exodus 12:44 e no Leviticus 12:3 e outras em que a prática é um rito de iniciação: Genesis 34:14, Exodus 4:24-26 e Leviticus 19:23. Para os homens a circuncisão era sunnah e para as mulheres era makrumah (que pode ser traduzido como um dever de honra).
Sami concretiza o tema através de debates que vários autores contemporâneos consideram ser de grande importância. Assim, e a título ilustrativo, considera-se o debate entre Mohammed e Um Habibah: Habibah era conhecida como a mulher que excisava as escravas e pertencia a um dos grupos que tinha imigrado com Mohammed. Ao vê-la Mohammed perguntou-lhe se ainda praticava a excisão ao que esta respondeu de forma afirmativa acrescentando “a não ser que seja proibido e que tu me proíbas de o fazer”. De seguida o profeta explicou-lhe que devia fazê-lo sem exageros pois isso tornaria a face da mulher mais radiosa e daria mais prazer ao seu marido.
Mohammed definiu normas, fitrah, que todos os que almejavam a perfeição deveriam seguir e a circuncisão era obrigatória.
 Apesar de a circuncisão ter bases frágeis no Corão e no Sunnah (Hadith) outros seguidores tentam fazer prevalecer esta prática através de argumentos como os costumes e, na medida em que é uma prática com largos anos de existência, não deve ter fim porque não contraria quaisquer textos religiosos e o que não é expressamente proibido, é permitido.
Os argumentos contra também existem e, por isso, pode-se referir, uma vez mais, o trabalho de Sami que faz alusão ao autor El-Saadawi: a religião, quando autêntica nos seus princípios básicos, pretende alcançar a verdade, a igualdade, a justiça e o amor e, por isso, qualquer mutilação física infligida a crianças não pode ser apanágio de uma verdadeira ideologia religiosa.
O verso 4:119 do Corão condena a alteração de toda e qualquer obra de Deus o que inclui a criação de falsos desejos e a alteração do corpo, ou seja, a circuncisão.
A circuncisão de raparigas, qualquer dos tipos, é anterior ao Islão em muitos séculos. Era praticado em algumas partes da Arábia no tempo do Profeta Mohammed e era um costume da época que era praticado por algumas tribos locais, mas não todas. Era já uma tradição pré-estabelecida, portanto a circuncisão feminina não foi introduzida pelo Profeta às primeiras comunidades muçulmanas.
Caso desejem ler o texto na íntegra, vá ao site, pelo link abaixo:

 5ª etapa: DESAFIO: Elabore um texto instrucional sobre a temática infibulação e retratem os resultados aos quais vocês chegaram sobre a pergunta norteadora. Afinal a infibulação é um elemento cultural ou religioso? Com a ajuda de um celular, filme as respostas dos colegas, conjuntamente com a turma transformem esta filmagem em vídeo informativo, deve ter no máximo 15 minutos, postar no You ube

RECURSOS

  • Filme Massai Branca (com cortes);
  • Laboratório de informática com acesso a internet;
  • Celular;
  • Cibercultura (links, blogs, you tube vídeos...);
  • Lápis/caneta/borracha;
  • Dicionário.

AVALIAÇÃO PARCIAL DA UNIDADE, VALOR TOTAL 4,0

Auto-avaliação: 0,5 ponto;
Avaliação do grupo (turma): 0,5 ponto;
Avaliação da participação das discussões orais: 0,5
Avaliação do vídeo (elaborado em grupo): 0,5
Avaliação das postagens no blog e suas interações: 2,0


CONCLUSÃO

Esta webquest foi criada com a intencionalidade de discutirmos o momento histórico, pelos quais, uma imensa massa de meninas/mulheres, estão sendo mutiladas na África, Oriente Média e outros países orientais, cuja base cultural impõem a infibulação através dos seus hábitos ancestrais, muitas vezes apoiados por seus ritos religiosos. A questão do pecado e a ‘sincretização’ da figura feminina com atos libidinosos e demoníacos, é uma construção histórica, por quais, nós mulheres, temos passado em diversas épocas e na grande maioria das sociedades, sejam elas orientais ou ocidentais.
A sexualidade carrega o fardo de ser algo que se referenda no mau, na figura demoníaca e são poucas as sociedades que a tratam de modo natural do Ser Humano, como fonte de prazer e de procriação, sem o estigma de coisas do ‘demônio’. Nossa proposta é ampliar o leque de conhecimentos do discente, fazê-lo entender que existem diversas formas de viver (pluralidade cultural), induzi-lo a comparar o outro, com o nosso universo cultural, mas, tomando o cuidado de não criticarmos o outro sobre os nossos valores.

Esperamos que o nosso alunado sensibilize-se pela situação destas meninas/mulheres e compreendam os diversos processos pelos quais uma sociedade passa, suas ‘superstições’, seus ideais, sua fé, e o modo pelo qual uma sociedade impõe, ou constrói seus valores, justificando, seus atos em bases religiosas.
As situações de aprendizagens propostas envolveram as diversas formas de linguagens (áudio-visual, fílmica, oral etc.), com o objetivo, de desenvolvermos suas competências e habilidades de leitura e interpretação, juntamente, com a proposta de uma releitura e construção de um novo conhecimento. Desejamos, também, promover o uso do seu senso crítico à formação sócio-cultural e religiosa do outro. Para esta experiência pedagógica, escolhemos como ponto de partida o filme Massai Branca, por ser um filme de contexto vivo, (por tratar-se de uma autobiografia) e pela qualidade sócio-religiosa e histórica que ele nos trás.

Profª Leila Cristina N. L. Garrido.